Novo sistema de arrecadação da reforma e disputa entre municípios

Eduardo Cucolo

São Paulo

Em junho deste ano, 500 companhias selecionadas poderão realizar testes em um ambiente restrito desenvolvido pelo Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) para avaliar o sistema de apuração e arrecadação do novo imposto e da nova contribuição criados pela reforma tributária. A partir de janeiro, ele estará disponível para todas as empresas brasileiras.

Em 2026, as empresas terão como obrigação calcular os novos tributos e informá-los na nota fiscal eletrônica. Não haverá recolhimento nesse primeiro ano, que será um período de teste para calcular a alíquota necessária para manter a arrecadação atual.

Somente em 2027 passam a ser cobrados a CBS (contribuição federal sobre bens e serviços), com alíquota cheia, e o IBS (imposto sobre bens e serviços dos demais entes), com um percentual de 0,1%.

As novidades incluem também uma calculadora, um portal com acesso pelo Gov.br e a declaração pré-preenchida fornecida pela Receita Federal e pelo Comitê Gestor formado por estados e municípios.

Durante evento promovido há algumas semanas pelo escritório Loria Advogados, o Serpro realizou uma simulação de como o sistema, que funcionará em uma nuvem soberana de governo, com processamento dos dados em território nacional, será visto pelo contribuinte.

O governo diz que a apuração dos tributos sobre o consumo se tornará mais fácil, dispensando a entrega de outros documentos —emitir a nota fiscal eletrônica será a única obrigação.

O sistema estará apto a trabalhar com o novo CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), composto por letras e números, que deve ser implantado em meados de 2026.

O cronograma de trabalho segue dentro do planejado e de acordo com o previsto na reforma. Em dezembro, foi entregue a primeira versão do software principal. O Serpro conclui neste mês a versão do portal que ficará em teste junto à Receita antes de ser disponibilizada para o grupo restrito de empresas em junho.

O atraso na conclusão da votação do segundo projeto que regulamenta a reforma é um dos fatores de preocupação em relação ao funcionamento pleno do sistema. Somente em maio a tramitação desse texto será retomada pelo Senado, onde o PLP 108/2024 está parado há quase dez meses.

Outra questão é a disputa entre os municípios pelas vagas no comitê gestor. O órgão que visa garantir a cooperação entre os entes subnacionais e o fim da guerra fiscal já nasceu em conflito.

As duas entidades que representam os municípios foram ao Judiciário para discutir a divisão das 27 cadeiras às quais têm direito. A FNP (Frente Nacional dos Prefeitos), que representa as capitais e grandes cidades, quer ocupar os 13 assentos que serão preenchidos por votação proporcional à população.

A CNM (Confederação Nacional dos Municípios), que abarca também pequenos e médios municípios, ficaria com as 14 vagas designadas pelo voto igualitário entre as prefeituras.

Os estados já indicaram seus 27 representantes e suplentes, mas alguns nomes estão sendo contestados por entidades de auditores fiscais. O argumento é que a participação de pessoas não concursadas contraria a Constituição, embora o texto da reforma não faça essa restrição. Os representantes do comitê dizem que a disputa não afeta o cronograma de desenvolvimento do novo sistema, mas a solução desses conflitos é importante para que tudo esteja pronto até o fim deste ano.


Fonte: Folha de São Paulo

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