Tarifaço pressiona sistema bancário brasileiro

O tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos de empresas brasileiras que exportam para os EUA terá sérias consequências. Entre elas, destaca-se a dificuldade dessas companhias em gerar divisas para liquidar as operações de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), devido ao cancelamento dos embarques. Já há relatos de cancelamentos em diversos setores, como pescados, frutas, rochas ornamentais, aeronaves, aço, entre outros.

Essa situação afeta diretamente o sistema financeiro, uma vez que a maioria das empresas exportadoras brasileiras utiliza o ACC como instrumento para viabilizar suas operações internacionais.

O ACC é uma operação financeira que permite às empresas exportadoras antecipar recursos no mercado financeiro antes do embarque da mercadoria ou da prestação de serviços ao exterior. Trata-se, essencialmente, de uma linha de crédito concedida por bancos a empresas com contratos de exportação firmados, funcionando como uma forma de financiamento ao comércio exterior.

Segundo o Banco Central do Brasil (BC), o volume anual de operações de ACC no País gira em torno de US$ 50 bilhões. Cerca de 12% das exportações brasileiras têm como destino os EUA, o que representa aproximadamente US$ 20 bilhões em vendas para o mercado norte-americano, de um total de US$ 165 bilhões exportados pelo Brasil.

Diante desse cenário, os bancos brasileiros poderão enfrentar dificuldades com a não liquidação de contratos de câmbio, num montante estimado em cerca de US$ 5 bilhões. Ou seja, o tarifaço não impacta apenas as empresas exportadoras, mas também as instituições financeiras que concederam crédito lastreado em operações futuras.

O Banco Central deverá considerar a flexibilização das normas cambiais, que atualmente determinam que, mesmo em caso de cancelamento do embarque, o exportador continua obrigado a entregar a moeda estrangeira ao banco. Isso significa que, para honrar o compromisso, a empresa terá de adquirir a moeda no mercado à vista, possivelmente a um custo superior ao originalmente previsto. Diante disso, os bancos precisam estar preparados para adotar alternativas como a recompra parcial da moeda, a alteração de prazos mediante justificativa fundamentada, ou, ainda, a conversão da dívida em outro tipo de crédito. Essas medidas podem ajudar a mitigar prejuízos e preservar o relacionamento com clientes estratégicos, além de contribuir para a estabilidade do sistema financeiro em um cenário de incerteza global.


Fonte: Estadão

Traduzir »