Fazenda quer proteger setores do tarifaço de Trump, mas sem que socorro vire despesa permanente

O Ministério da Fazenda tem pelo menos duas grandes preocupações com o tarifaço do governo americano. A primeira, proteger os setores atingidos. A segunda, fazer com que as medidas de socorro sejam bem calibradas, para não que elas não se transformem em despesas permanentes, a ponto de agravar o quadro fiscal.

Em conversa com o Estadão, um integrante da pasta foi alertado de que existe alta probabilidade de que os setores atingidos consigam redirecionar suas exportações para outros países. E, por isso, eles poderiam acabar ganhando duas vezes: não só com a exportação realizada, mas também com os benefícios do governo.

A resposta foi que a equipe econômica trabalhou arduamente para conseguir eliminar o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), criado durante a pandemia, no governo anterior, e que acabou se prolongando no atual governo. Por isso, este risco seria baixo, avalia a pasta, já que os técnicos estariam atentos ao problema.

Nesta segunda-feira, 4, um estudo divulgado pelo banco UBS BB apontou que 74% dos produtos exportados para os EUA poderiam ser facilmente redirecionados para outros mercados. Por isso, a aposta do banco era de que o tarifaço “não teria um impacto significante sobre o crescimento” da economia brasileira.

“Se a gente não fosse capaz de internalizar (vender no próprio Brasil) ou redirecionar as exportações remanescentes, de 26%, o que é pouco provável, estimamos um impacto no PIB de no máximo 0,6 ponto percentual”, afirmaram os economistas Alexandre de Azara, Rodrigo Martins e Fábio Ramos.

Empresários vêm apontando que o governo já têm as ferramentas necessárias para o socorro, que foram implementadas tanto na pandemia quanto na reconstrução do Rio Grande do Sul, após as enchentes que devastaram o Estado. Isso diminuiria o risco de os gastos saírem do controle já que essas medidas já foram implementadas, testadas e avaliadas.

Ainda assim, a preocupação da Fazenda faz sentido, já que o histórico no Brasil é de que as propostas sejam ampliadas durante a tramitação no Congresso e que os benefícios se prolonguem por tempo indefinido.

O governo também fez a leitura correta ao adiar o socorro para depois da publicação do decreto do governo americano, que acabou excluindo do tarifaço uma lista de quase 700 itens e reduziu o impacto sobre o País. Com menos setores afetados e com a preocupação fiscal no radar da Fazenda, o risco de descontrole de gastos com as medidas de socorro diminui.


Fonte: Estadão

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