Pequenas e médias empresas brasileiras devem ser as mais impactadas pelo tarifaço, diz Welber Barral
O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral avaliou que os efeitos do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras devem ter um impacto grave nos setores de manga, café e porcelanato. “Esses setores não têm um valor tão alto, mas tem um impacto relevante para as médias e pequenas empresas”, afirmou durante live do Estadão com o repórter Luiz Guilherme Gerbelli nesta quinta-feira, 31.
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Outros itens de menor valor agregado, a exemplo do mel, também devem sentir o impacto no curto prazo. Barral aponta que será necessário apoio do governo brasileiro para essas cadeias se reestruturarem e abrirem novos mercados para escoar a produção.
Apesar da gravidade da situação, ele pondera que o comércio internacional ainda opera majoritariamente sob as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). “A ovelha negra do momento é os EUA”, afirmou.
Segundo Barral, os produtos que ficaram na lista de exceção, como celulose, aviões da Embraer, suco de laranja e alguns industrializados vão conseguir manter o fluxo comercial.
No caso decommodities, como a carne, devem ser realocadas com menos dificuldade para outros mercados, mas deve haver perda de rentabilidade, diz ele. Já produtos industriais desenvolvidos para linhas específicas de produção nos EUA terão mais dificuldade de adaptação. “Vai ser um processo lento”, pontuou.
Sobre a possibilidade de retaliação, Barral diz que o Brasil tem autonomia jurídica, porém descarta que seja uma alternativa viável no momento. “Teoricamente ainda estamos dentro do prazo de negociação”. O ex-secretário cita que a retaliação em propriedade intelectual, por exemplo, seria grave e o governo brasileiro ainda está evitando esse tipo de movimento.
Ele classificou a conduta brasileira como “ponderada” e que o País tende a perder mais caso opte por uma retaliação contra os EUA.
Brasil e outros países devem buscar diversificar mercados
Um dos pontos mais sensíveis apontados por Barral foi a dificuldade de negociação com os EUA até o momento. Segundo o especialista, faltam interlocutores técnicos no governo americano. “Não há uma negociação fluída entre os governos”, observou.
Outra falha apontada pelo ex-secretário é a ausência de um escritório permanente em Washington para representar a indústria brasileira.
Questionado sobre a confiabilidade dos Estados Unidos como parceiro comercial, Barral foi enfático: “O dano reputacional é enorme. Eles estão violando até acordos que o Trump assinou com México e Canadá”. Neste contexto, a China tende a se beneficiar já que os países mais afetados estão tentando diversificar e reduzir a dependência dos EUA, avalia. Barral ainda defendeu que o Brasil busque se proteger de potenciais desvios de comércio e defendeu mudanças estruturais na internacionalização de empresas nacionais. Os entraves no arcabouço jurídico, segundo o ex-secretário, são os principais fatores que dificultam a internacionalização de companhias brasileiras.
Fonte: Estadão