Governo sofre goleada no IOF, e tendência é pela derrubada completa da proposta na Câmara

A derrota por goleada na votação da urgência para a derrubada do IOF tende a ser apenas o prenúncio do que vem pela frente para a equipe econômica no Congresso. O desejo na Câmara é pela derrubada completa da medida, ainda que isso leve o governo a aumentar a contenção sobre as emendas parlamentares. O cálculo político dos deputados é que o Planalto tem muito mais a perder com essa derrota do que a Câmara e o Senado.

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Na visão de parlamentares ouvidos pelo Estadão durante a votação na noite de segunda-feira, o governo federal tem descumprido acordos para a liberação das emendas, e esse é o pano de fundo da confusão. Um líder chegou a dizer que “ninguém aguenta mais tanto falatório” por parte de integrantes do Planalto, e por pedidos de novos prazos para negociação.

Mas há também um sentimento de insatisfação com a insistência em medidas de arrecadação, que vêm amparadas com a narrativa do “nós contra eles”, como se os governistas fossem os defensores dos pobres, e o Congresso estivesse apenas defendendo privilégios. O que é fato é que há aumento de impostos para as empresas, e que serão repassados para os consumidores finais, com impacto sobre toda a economia.

Prevendo a derrota acachapante, o líder do governo na Câmara, deputado Zé Guimarães (PT-CE), se viu obrigado a liberar a bancada governista, para não passar pelo constrangimento de ver partidos da base ignorando sua orientação para votar contra o pedido de urgência.

Por um momento, também circulou pelos corredores do Congresso o boato de que a votação poderia ser simbólica, o que significaria uma humilhação para a equipe econômica, porque, na prática, indicaria que até o PT teria votado contra as medidas do Planalto.

Em paralelo, também começa a entrar na berlinda pontos da Medida Provisória, mostrando que a disposição do Congresso para cortar gastos tem fôlego curto. No plenário, o deputado Átila Lins (PSD-AM), partido que integra a base governista, defendeu a queda da proposta que endurece as regras para a concessão do seguro-defeso, determinando que os municípios façam a homologação do registro dos pescadores.

Quero manifestar de pleno meu voto contrário a esse dispositivo, e vai haver emendas propondo a sua supressão, e vamos trabalhar para que essa supressão ocorra”, afirmou. Se a equipe econômica e o presidente Lula querem mesmo ter responsabilidade fiscal, terão que propor a sério um pacote de contenção de despesas primárias, e não novas propostas de arrecadação. É assim que o Congresso funciona, sob a pressão do Executivo, e desta vez não será diferente. O resultado da votação, com ampla maioria de votos contrários por parte de partidos da base, deve servir de alerta ao governo de que a estratégia adotada até aqui estão dando muito errado.


Fonte: Estadão

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