EUA vão anunciar medidas para reduzir preços de café, banana e outros produtos, diz secretário do Tesouro
São Paulo
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou nesta quarta-feira (12) que o governo deve anunciar nos próximos dias medidas para reduzir os preços de produtos como café, bananas e outros itens que são importados pelo país.
Em entrevista ao programa Fox and Friends, da Fox News, Bessent disse que as medidas, não detalhadas, farão os preços “caírem muito rapidamente” e que os consumidores “começarão a se sentir melhor em relação à economia” no primeiro semestre de 2026.
Os preços do café despencaram nesta quarta após os sinais de que os Estados Unidos devem reduzir tarifas de importação sobre alguns produtos, o que pode aliviar a escassez de oferta no maior mercado consumidor do mundo.
O presidente Donald Trump e outras autoridades têm concentrado esforços em reduzir o custo de vida após uma série de derrotas de candidatos republicanos nas eleições da semana passada, em que os democratas fizeram da inflação um tema central.
“É difícil fazer muitas coisas específicas, mas posso dizer (…) que vocês verão alguns anúncios específicos nos próximos dias em relação a itens que não cultivamos aqui nos Estados Unidos, sendo o café um desses itens, além de bananas, outras frutas e coisas do tipo”, afirmou o secretário do Tesouro.
Bessent não deu detalhes sobre as medidas que serão tomadas e nem especificou um prazo para a divulgação.
Nesta terça-feira, o presidente Donald Trump anunciou que vai reduzir “algumas tarifas” sobre o café, um dos principais produtos exportados pelo Brasil, mas também não deu maiores detalhes.
“Nós vamos baixar algumas tarifas sobre o café, e vamos ter algum café entrando [nos EUA]”, disse em entrevista ao programa The Ingraham Angle da Fox News. “Vamos cuidar de tudo isso muito rápido, é cirúrgico, é bonito de se ver, mas o custo de vida hoje está bem menor.”
O Brasil, que respondia por um terço dos grãos consumidos pelos EUA, maior consumidor de café do mundo, é alvo de uma sobretaxa de 50% desde agosto.
Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos, sendo o maior fornecedor no período. Em segundo lugar, a Colômbia foi responsável por US$ 1,48 bilhão, segundo dados da International Trade Administration, órgão vinculado ao Departamento de Comércio americano.
Em setembro, os consumidores americanos pagavam quase 19% mais pelo café torrado e 22% mais pelo instantâneo do que um ano antes, segundo o CPI. O preço das bananas subiu quase 7% em relação ao ano anterior, enquanto o de frutas frescas em geral ficou estável.
Os EUA cultivam bananas no Havaí e na Flórida, mas a produção comercial é limitada; a maioria das frutas é importada de países com mão de obra mais barata e custos de terra menores.
A tarifa já vem causando estragos no setor cafeeiro dos EUA, que movimenta US$ 340 bilhões ao ano, deixando importadores com cargas de café brasileiro paradas, torrefadoras pagando taxas para cancelar entregas e consumidores gastando até 40% a mais na bebida. Os estoques devem atingir níveis mínimos em dezembro.
No início de outubro, Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontraram na Malásia e iniciaram conversas para retirar as tarifas sobre produtos brasileiros. Um acordo poderia baratear o café para os consumidores americanos, já que o Brasil é o maior produtor e exportador do grão no mundo.
Em setembro, o segundo mês com a vigência das taxas, os Estados Unidos reduziram em 52,8% as importações dos cafés do Brasil ante setembro de 2024, adquirindo 332.831 sacas, segundo dados do CeCafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Com isso, os norte-americanos desceram ao terceiro posto no ranking mensal. A líder foi a Alemanha (654.638 sacas) e a segunda colocada a Itália.
Os Estados Unidos, mesmo com o declínio motivado pela taxação, seguem como o maior comprador dos cafés do Brasil no acumulado dos nove primeiros meses de 2025, com a importação de 4,361 milhões de sacas (queda de 24,7% na comparação com o período entre janeiro e setembro de 2024). Esse volume corresponde a 15% dos embarques totais no agregado do ano.
O café não torrado representou 5,3% das exportações brasileiras para os Estados Unidos neste ano (considerando o período entre janeiro e outubro), totalizando US$ 1,7 bilhão, segundo dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). No ano passado todo, o índice foi de 4,7%.
Além das incertezas em relação à guerra comercial, o clima também tem impactado safras ao redor do mundo. Desde agosto, os preços futuros do arábica —variedade de café mais cultivada no Brasil— subiram quase 40% e se aproximam de níveis recordes. Os preços do robusta, usado sobretudo em cafés instantâneos, aumentaram cerca de 37%. O Brasil responde por quase 40% da produção global de café. O país vem sofrendo com secas anuais desde 2020, o que fez a demanda mundial superar a oferta, segundo analistas.
Fonte: Folha de São Paulo
