Pequena e média empresa está pouco preparada para reforma tributária, aponta levantamento

Márcia Magalhães

São Paulo

A apenas dois meses da entrada em vigor das novas regras da reforma tributária, a maioria das pequenas e médias empresas brasileiras consultadas pela plataforma de gestão financeira Conta Azul segue desinformada e despreparada para a mudança.

O levantamento revela que 83% deles afirmam ter pouco ou nenhum conhecimento sobre a reforma, e 72% ainda não iniciaram qualquer tipo de preparação.

O resultado está em linha com outros levantamentos divulgados recentemente. Pesquisa da Thomson Reuters mostra que 35% das grandes empresas consultadas se encontram em estágios avançados de preparação para a reforma tributária, 35% ainda estão em estágio inicial, e os 30% restantes declaram estar em um nível intermediário de planejamento.

Segundo a plataforma de gestão financeira Conta Azul, o grau de desconhecimento varia conforme o porte da empresa. Entre os MEIs (Microempreendedores Individuais), a lacuna é a maior: 45,9% admitem não ter qualquer conhecimento sobre a reforma, e outros 43,3% têm apenas um conhecimento básico.

Entre as MEs (Microempresas), a taxa de desconhecimento cai para 35,6%, com 48% no nível básico. Já nas médias e grandes empresas, 27,7% não têm nenhum conhecimento sobre o tema e 49,5% relatam ter conhecimento básico.

A Conta Azul ouviu 1.600 empresários, contadores e profissionais do setor financeiro em todo o país, durante o período de 27 de agosto a 11 de setembro deste ano.

Em um cenário de transição tributária que envolve mudanças relevantes na estrutura de impostos e obrigações acessórias, o levantamento revela ainda que apenas 9% das empresas têm um plano ativo de adaptação e somente 3% dos empresários declaram ter um conhecimento avançado e estratégico sobre o tema.

O nível de preparação também é diferente de acordo com o porte da empresa. Entre os MEIs, 81,5% dizem que ainda não começaram a se preparar e não sabem por onde começar. Outros 14,8% também não iniciaram, mas afirmam conhecer os primeiros passos. Apenas 3,7% dos MEIs já deram início à adaptação.

Nas MEs, 75,8% ainda não começaram e se dizem perdidas; 17% sabem por onde começar, mas ainda não iniciaram; e apenas 7,2% já tomaram alguma providência.

Já entre médias e grandes empresas, o cenário é um pouco menos crítico: 11,3% já iniciaram a transição, e 20,2% conhecem os primeiros passos —ainda que 68,5% continuem totalmente desmobilizadas.

Em setembro, a indústria paranaense já havia alertado para os riscos de atraso na adaptação às novas exigências, como a atualização dos sistemas de emissão de notas fiscais eletrônicas.

A partir de 2026, esses documentos deverão trazer campos específicos referentes ao IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e à CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), novos tributos que irão substituir os atuais sobre consumo.

Segundo o levantamento, 38% têm visão negativa ou muito negativa sobre a reforma, a maioria (53%) faz uma avaliação neutra, e 9% enxergam as mudanças de forma favorável.

Entre os principais receios, destacam-se o possível aumento da carga tributária (58%), a complexidade das regras de transição (19%) e os efeitos no controle de dados e fluxo de caixa (14%).

Já as áreas internas das empresas que mais preocupam são a precificação (53%), a gestão financeira (21%) e o cumprimento de obrigações acessórias (14%).

De acordo com o Boletim do 2° quadrimestre de 2025 do Mapa de Empresas, ferramenta disponibilizada pelo governo federal, mais de 90% das pessoas jurídicas no Brasil são microempresas ou empresas de pequeno porte.

Para Vinicius Roveda, CEO da Conta Azul, a pesquisa evidencia a distância entre o debate técnico sobre a reforma e a realidade das pequenas empresas.

“O levantamento mostra baixa preparação, falta de conhecimento e alta demanda por orientação prática e tecnológica. A maioria dos donos de negócios ainda não compreende nem se adaptou às mudanças trazidas pela reforma tributária”, afirma.

A reforma, que promete simplificar o sistema tributário, começará a ser implementada com a adoção de dois novos tributos: a CBS, de competência federal, e o IBS, que será compartilhado entre estados e municípios. Juntos, eles substituirão os atuais encargos sobre o consumo de bens e serviços. No início, as empresas terão de lidar com um modelo de apuração paralela, convivendo com o sistema antigo e o novo simultaneamente —o que exige preparo técnico e estrutural para evitar falhas e inconsistências.


Fonte: Folha de São Paulo

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