A trapalhada do IOF está longe de ter sido um caso isolado neste governo

Em meio às críticas à desastrada elevação de alíquotas de IOF, merecem destaque as acusações de que, desta vez, a equipe econômica do governo teria dado razões de sobra para ser acusada de improvisação e amadorismo. Na verdade, o episódio está longe de ter sido um caso isolado. Decisões improvisadas e amadorísticas vêm marcando a atuação da equipe desde o início do atual governo.

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Em contraste com o que tinham anunciado, de início, todos os presidentes desde 1999, Lula da Silva decidiu abandonar por completo a ideia de conduzir uma política fiscal pautada pela manutenção do endividamento público sob controle. A nova equipe recebeu um prato feito. E a missão impossível de tentar conferir alguma seriedade a esse abandono escancarado do compromisso com a responsabilidade fiscal.

No final de março de 2023, foi finalmente dado ao público o esboço do melhor que a equipe econômica conseguira fazer. O arcabouço fiscal, com seu desconjuntado apanhado de regras desconexas e metas pífias de déficit primário quase zero, não deixava dúvidas sobre as proporções da improvisação e do amadorismo de que a nova equipe econômica seria capaz.

A proposta só poderia ter saído da cabeça de quem não era do ramo e não tinha a menor noção do que deveria ser um aparato eficaz de balizamento da política fiscal no País.

Um retrocesso desastroso. Vinte anos antes, na transição de 2002-2003, o bom senso de Antonio Palocci, Pedro Malan e Armínio Fraga tinha permitido que a inexperiente equipe econômica do primeiro governo Lula tirasse bom proveito do rico acervo de conhecimento acumulado sobre gestão fiscal no País. Por que nada parecido ocorreu na transição de 2022-2023?

O que impediu a equipe de Lula de fazer bom uso do acervo acumulado, em 2023, foi o negacionismo sobre o desastre do governo Dilma em que continuava mergulhado o PT. A palavra de ordem era reverter toda e qualquer medida que tivesse sido tomada pelo “governo golpista” de Michel Temer. E, no afã de se livrar do teto de gastos a qualquer custo, com a PEC da Transição, a equipe cometeu erros crassos, perfeitamente evitáveis. O que hoje se vê é o rápido e desastroso desfecho dessa comédia de erros. Não tendo conseguido respeitar nem mesmo as restrições permissivas do disparatado arcabouço fiscal vigente há menos de dois anos, a equipe alegou, agora, que a receita que adviria da indefensável elevação de alíquotas de IOF tornara-se “imprescindível” para evitar a paralisação do governo. A isso chegamos. E ainda falta


Fonte: Estadão

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