A trégua na guerra comercial e os impactos para o Brasil
Na Coluna desta quinta-feira foi dito que a trégua comercial entre Estados Unidos e China produziu algum alívio, mas não reduziu as incertezas e acrescentou outras. E isso tem impacto sobre a atividade econômica global e interna.
Convém agora conferir como fica a economia brasileira diante da nova ordem econômica, que vai sendo forjada, e do novo quadro comercial que tende a redesenhar o fluxo global de produção e distribuição.
Quando se apresentava apenas o efeito do tarifaço, com casca e tudo, tal como anunciado no início de abril – sem os acordos individuais com cada país que vieram depois –, muitos analistas concluíram que o Brasil poderia aproveitar mercados que se estreitavam com a guerra comercial.
Por exemplo, o Brasil poderia exportar mais grãos, carnes e petróleo para a China que se fecharia ao fornecimento para os Estados Unidos. Enfim, o tarifaço e o desmanche da ordem econômica mundial estariam criando novas oportunidades que poderiam ser aproveitadas pelo País.
A reversão ou a redução do impacto das tarifas que se seguisse a um novo acordo comercial diminuiria essa vantagem relativa do Brasil. Como PIB é renda, uma forte queda da renda em commodities seria fator que puxaria para baixo o crescimento da economia em 2025 e em 2026. Mas a esta altura, impossível saber qual o tamanho real desse efeito.
Como os bancos centrais dos Estados Unidos, da União Europeia e do Brasil vêm apontando, as incertezas tendem a desacelerar a atividade econômica global e a interferir nos mercados de câmbio, ainda que não se saiba em que direção e em que proporção.
O mar continua mais para tormentas do que para águas tranquilas. Isso exige reforço na estrutura do barco brasileiro e não sua fragilização produzida por essa gandaia fiscal que vem prevalecendo até aqui.
Em sua última ata, o Copom foi ainda mais explícito sobre o diagnóstico: a gastança do governo e a perigosa esticada da dívida pública que a ela se segue fazem o jogo contrário ao da política monetária e impõem a necessidade de juros persistentemente altos para garantir algum controle da inflação.
São os diretores, a maioria conduzidos pelo presidente Lula ao Banco Central, que vêm apontando esse risco – e não eventuais estagiários de alguma escola monetarista. De mais a mais, já é oficial que nada garante o equilíbrio nas contas públicas em 2027. Se tudo ficar como está, é daí para o Deus-dará. No momento, o presidente Lula só tem olhos para as eleições de 2026. E, a partir daí, é um pacote de bondades atrás do outro, destinados a despertar o voto do eleitor, cujo efeito é a corrosão do casco da embarcação.
Fonte: Estadão