Qual é o impacto da redução de tarifas no agro para as exportações brasileiras?
A assinatura de decreto retirando a tarifa-base de 10% sobre importação de diversos produtos agropecuários, pelo presidente americano, Donald Trump, na sexta-feira, 14, é uma ajuda às exportações brasileiras com impacto limitado e precisa ser encarada como uma etapa para uma redução maior, segundo especialistas. A tarifa de 40% específica para o Brasil, que, somada à taxa-base, levou ao tarifaço de 50% sobre uma parcela relevante dos produtos brasileiros exportados para os EUA, ainda está em vigor.
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Mais tarde, na mesma sexta-feira, Trump ainda declarou, em comentários a jornalistas a bordo do avião presidencial Air Force One, não acreditar que sejam necessárias mais reduções tarifárias, o que aumenta a preocupação para o Brasil.
Com o novo decreto, há em geral — à exceção das taxações específicas como as de aço e veículos e das que já vigoravam antes do atual mandato de Trump — quatro situações tarifárias para produtos brasileiros:
- Produtos submetidos em cheio ao “tarifaço” (10% de tarifas recíprocas globais + 40% de tarifas adicionais como sanção política ao Brasil);
- Produtos brasileiros enquadrados emquase 700 categorias, isentos da tarifa de 40%, mas submetidos aos 10% de tarifas recíprocas;
- Produtos que, além de enquadrados como exceções do tarifaço de 40%, agora também são isentados dos 10% de tarifas recíprocas, como alguns tipos de suco de laranja e a castanha-do-pará;
- Produtos agropecuários, como carne bovina, banana, café e tomate, que deixam de ser submetidos aos 10% de tarifas recíprocas, mas seguem sujeitos aos 40% de sanção política ao Brasil.
- Para os exportadores desses produtos do agro ainda sujeitos aos 40%, o alívio, mesmo sendo bem-vindo, é pequeno. “Ainda a tarifa é muito elevada. De partida, não fazia sentido econômico, uma vez que o Brasil é deficitário na balança comercial com os EUA, e o que sobra também continua não fazendo sentido”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “Esse caminho intermediário é muito pouco. Há ainda discussões em relação a terras raras e outros produtos relevantes que exportamos para os EUA. Haverá ainda muita discussão pelos próximos meses, para nos colocar em par com o resto do mundo, que hoje no padrão americano está mais para 15%, não para 40%.”
Ao considerar acordos que os EUA assinaram, em paralelo, com outros parceiros comerciais — o Brasil ainda negocia o seu —, o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio-fundador da BMJ Consultoria, vê risco de desvios de comércio em alguns segmentos, como tem reclamado representantes do setor de cafés. “Alguns países que têm acordo com os EUA ficaram com tarifa zero contra 40% do Brasil. Antes dos acordos, alguns chegavam a ter taxa de 30% ou 20%. A diferença ficou maior”, afirma Barral.
A preocupação é que países como Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Vietnã e Indonésia aproveitem a tarifa ainda alta para o café brasileiro e busquem substituir a presença do sabor daqui na mistura (blends) consumida pelos americanos, com a qual eles estão acostumados, mas que é algo que pode mudar com o tempo.
Impacto nos setores
No setor de carne, as percepções são variadas. Os exportadores de carne bovina tiveram mais facilidade de redirecionar seus produtos para outros países, em comparação com os outros segmentos agropecuários, e mantiveram vendas fortes. Mas há preocupações.
O Brasil vinha mantendo fluxo grande de vendas para os EUA no primeiro semestre, e o tarifaço reduziu em quase 60% as vendas. “Mesmo retirando só 10%, acho que é um sinal muito positivo para retomar o fluxo normal para os EUA”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa. “Nós exportamos a carne que complementa a produção local. Não competimos na gôndola do supermercado, mas abastecemos as indústrias americanas com a carne moída e o hambúrguer.”
Antes do tarifaço, a carne brasileira já pagava 26,4% de tarifas, e a medida do Trump elevou para 76,4%. “Mesmo assim, estávamos conseguindo manter o fluxo de pelo menos 10 mil toneladas por mês, frente aos 40 mil de seis meses atrás. A redução para 66,4% alimenta a possibilidade de a gente aumentar o fluxo e a gama de corte que mandamos para os EUA”, diz Perosa.
“A pressão que a sociedade americana exerce ao governo deve continuar, porque, se ele retirasse tarifa de 50%, diminuiria muito a pressão, mas retirar 10% deve ter pouco impacto de preços. O governo americano deu um grande sinal ao mundo e ao Brasil de que está disposto a reduzir as tarifas. Há seis meses, a sinalização era de aumento da tarifa, e agora é de redução”, complementa.
Já outro representante do setor acredita que existe risco de substituição da carne brasileira e de haver triangulações para o mercado americano. “Como acontece com o café, com a Colômbia, que, sem ter a capacidade de produção do Brasil, compra produtos aqui para vender aos EUA, países como Uruguai e Paraguai podem comprar carne para exportar. E isso faz os nossos preços caírem, uma vez que precisamos vender mais barato para os outros países que vão repetir”, diz Tirso Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). “Essa condição também faz com que podemos ir perdendo a marca Brasil de percepção de qualidade dos nossos produtos, algo que levamos décadas para construir.”
No setor de frutas, uma das maiores preocupações é que a uva ficou de fora da isenção dos 10%. Ela era o segundo produto mais vendido para os EUA, do segmento, atrás apenas da manga.
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), por meio de nota, lamentou: “A exclusão ocorre em um momento sensível. No terceiro trimestre deste ano, as exportações de uva para os Estados Unidos registraram uma queda de 73% em valor e quase 68% em volume em relação ao mesmo período de 2024, evidenciando os desafios enfrentados pelos produtores e exportadores nacionais”.
Fusões e aquisições de fintechs podem acelerar em 2026, diz consultoria
O ritmo de rodadas de investimento em fintechs deve diminuir em 2026, mas as fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) podem ganhar volume no Brasil e na América Latina, segundo avaliação da consultoria Zaxo. A mudança indica que o setor caminha para uma fase de consolidação dos negócios, na visão de Jefferson Nesello, sócio fundador da Zaxo.
De acordo com a consultoria, a escassez de capital de risco no mercado é um fator que impulsionará essa dinâmica. Com menos liquidez para os investimentos em startups, os M&As se tornam alternativa para o crescimento – mirando aumentar a base de clientes e aumentar eficiências. Além disso, bancos tradicionais, seguradoras e corporações estão ampliando seus braços digitais via aquisições, preferindo comprar tecnologia pronta em vez de desenvolver internamente, aponta Nesello.
No setor de tecnologia como um todo, há ainda a tendência de atores globais, especialmente americanos e israelenses, buscando entrada no mercado da região via aquisição. Entre casos recentes temos Nayax comprando a VMtecnologia e a Evertec comprando a Tecnobank. À frente, há expectativa para consolidação em áreas como a de pagamentos B2B (entre empresas), crédito para pequenas e médias empresas, infraestrutura regulatória (como compliance, antifraude) e plataformas de investimento digital, avalia a Zaxo.
América Latina e Sudeste Asiático são destaques
Globalmente, há estimativas de que o volume de transações em fintechs deve crescer entre 10% e 15% em 2026, com destaque para América Latina e Sudeste Asiático. Os dados da Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina (Lavca) e da CB Insights.
Olhando para dados de 2024, a consultoria identificou que as fintechs concentraram US$ 2,76 bilhões em aportes e 230 transações na América Latina, consolidando-se como o principal destino de investimentos na região. Para 2026, a projeção é de um aumento para 260 a 300 negócios na América Latina, com capital investido entre US$ 3,5 bilhões e US$ 4 bilhões. O tíquete médio deve subir de US$ 12 milhões para US$ 13 milhões a US$ 15 milhões.
Segundo a Zaxo, após o ajuste no mercado de venture capital entre 2023 e 2024, as fintechs estão sendo avaliadas com múltiplos médios entre três e seis vezes a receita anual recorrente (ARR, na sigla em inglês).
Tarifaço de Trump: ‘Estamos trabalhando para reduzir mais as tarifas dos EUA’, diz Alckmin
ENVIADOS ESPECIAIS A BELÉM – O vice-presidente brasileiro e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, voltou a dizer nesta segunda-feira, 17, que está confiante sobre as negociações com os Estados Unidos para a redução ou retirada de tarifas de 40% sobre parte da pauta exportadora do Brasil.
Ele falou sobre a necessidade de “corrigir distorções” e reforçou que os EUA têm superávit comercial com o Brasil. Ele participa de coletiva de imprensa em Belém (PA).
O governo dos Estados Unidos confirmou no mesmo dia ao governo brasileiro que, apesar do alívio tarifário anunciado sobre produtos agrícolas, a tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros está mantida. “Estamos trabalhando para reduzir mais as tarifas dos EUA”, declarou Alckmin.
Sobre a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), Alckmin falou hoje que 118 países apresentaram as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). As informações estão sendo atualizadas diariamente, após atraso nas apresentações. O vice-presidente classificou a Conferência em Belém (PA) como “um sucesso”.
Mercosul-UE
Alckmin voltou a mostrar confiança para a assinatura do texto final do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já havia informado que as negociações do acordo comercial estavam concluídas e que a assinatura virá quando o debate sobre o tema no Conselho Europeu for finalizado.
O vice-presidente comentou sobre diversos temas, incluindo os resultados alcançados pelo Brasil no desenvolvimento de novas fontes renováveis de energia. “Vamos ser os grandes protagonistas do SAF [Combustível Sustentável de Aviação]”, disse.
Sobre o tema da transição para o fim da dependência em relação aos combustíveis fósseis, o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, reforçou que Lula sugeriu uma “mapa do caminho” para fim da dependência na Cúpula de Líderes, realizada antes da COP30. Ele ressaltou que a COP já está marcada pela diretriz do presidente sobre transição energética e a decisão sobre o tema foi tomada em Dubai, na COP28.
Fonte: Estadão
