Tarifas: EUA demonstraram interesse em boa relação com o Brasil, diz Vieira após reunião com Rubio
WASHINGTON – Após se reunir com o secretário de Estado dos EUA para discutir as tarifas a produtos brasileiros, nesta quinta-feira, 13, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que “Marco Rubio e os EUA demonstraram interesse em boa relação com o Brasil”.
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No encontro, em Washington, o terceiro entre ambos em meio à guerra comercial, Rubio prometeu uma resposta à proposta do Brasil entre “amanhã (sexta-feira, 14) e semana que vem”. O Brasil solicitou aos americanos uma pausa temporária nas tarifas em um acordo provisório para que, então, seja iniciada uma discussão específica em cada setor.
A proposta brasileira foi enviada no dia 4 de novembro. Foi uma resposta à primeira manifestação dos americanos, que no encontro entre Vieira e Rubio de 16 de outubro entregaram uma lista de temas que gostariam de tratar com o Brasil.
O secretário de Estado disse que estão examinando com toda atenção e todo tempo, que querem resolver rapidamente as questões bilaterais com o Brasil e que a resposta virá muito proximamente, amanhã (sexta-feira, 14) ou na próxima semana”, disse o chanceler brasileiro, a jornalistas, em Washington.
Na rede X, Rubio relatou que se reuniu com o chanceler brasileiro e que ambos discutiram “assuntos de importância mútua” e “um quadro de reciprocidade para a relação comercial entre os EUA e o Brasil”.
Segundo Vieira, Rubio afirmou na reunião que o próprio presidente dos EUA, Donald Trump, manifestou a intenção de resolver as questões com o Brasil “muito rapidamente” e que deseja manter uma boa relação com o País. O secretário americano também reafirmou a vontade de chegar a um acordo provisório com o Brasil até o fim do mês, o que já havia sido proposto nas reuniões técnicas, conforme ele.
O objetivo é de se chegar a um acordo provisório, até o final desse mês, ou princípio do mês que vem, que estabelecesse um mapa do caminho para uma negociação que poderia durar dois meses ou três meses, para então se concluir definitivamente todas as questões entre os dois países”, explicou Vieira.
Na sua visão, as sinalizações indicam o “interesse” do governo americano em solucionar todas as questões pendentes na relação com o Brasil. “É um sinal de desejo de solucionar, de dar a volta nessa página e de se aproximar com o Brasil”, reforçou o ministro brasileiro.
Questionado sobre os temas abordados na reunião, Vieira disse que foi discutido um “marco geral”, em vez de questões específicas. “Esse canal de diálogo, como foi estabelecido entre os dois presidentes na Malásia, é um diálogo de nível político, para abrir os caminhos e as portas para um acordo, e para isso tem as negociações”, afirmou.
Como foi a reunião desta quinta-feira em Washington
A reunião desta quinta-feira foi o terceiro encontro de Vieira com Rubio nas negociações entre o Brasil e os EUA em meio às tarifas. A reunião começou antes das 17h, no horário local (19h em Brasília), e durou cerca de uma hora no total, mais do que era esperado, em torno de meia hora. E foi dividida em duas partes. Primeiro, Vieira e Rubio conversaram a sós. Depois, o encontro foi ampliado para os assessores de ambos os lados.
As sinalizações de Trump e do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, quanto à intenção dos EUA de anunciar alívios tarifários a produtos como o café aumentaram a expectativa quanto uma possível redução da taxa ou isenção ao café do Brasil, que é um dos principais exportadores do produto aos EUA.
Nesta quinta-feira, os EUA anunciaram acordos comerciais com Argentina, Guatemala, El Salvador e Equador. Por ora, contudo, as medidas contra o Brasil, taxado em até 50%, continuam em vigor.
O chanceler brasileiro e o secretário americano tiveram dois contatos na véspera, durante a cúpula do G-7, no Canadá, quando acertaram a reunião desta quinta, no Departamento do Estado. Ao chegar, ambos posaram para fotos e fizeram o tradicional aperto de mão, em frente a jornalistas brasileiros e estrangeiros. No momento, o idioma utilizado era o espanhol.
Mas a terceira reunião entre Vieira e Rubio teve um peso a mais. Foi o primeiro encontro no Departamento de Estado dos EUA diante das câmeras. O anterior, realizado no mês passado, ocorreu na Casa Branca, e não foi permitida entrada da imprensa.
Do lado brasileiro, participaram da reunião desta quinta-feira, além de Vieira, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Ribeiro Viotti, o embaixador Joel Sampaio, o chefe de gabinete e embaixador Ricardo Monteiro, o secretário de assuntos econômicos e financeiros, Philip Fox-Drummond, Fernando Sena, número 2 da embaixada do Brasil em Washington, além de assessores do chanceler.
O Brasil teve parte de seus produtos taxada em 50%, em julho, sendo um dos mais afetados pela nova política comercial americana, o que gerou a pior crise institucional e diplomática entre os parceiros comerciais. A medida foi adotada em resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump. Além de impor tarifas a produtos importados do Brasil, os EUA revogaram vistos americanos de diversas autoridades brasileiras e sancionaram com a Lei Global Magnitsky o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua esposa, Viviane Barci de Moraes.
Fonte: Estadão
