Lula encontra Alcolumbre e adia anúncio de Messias no STF para volta de viagem

Catia Seabra Catarina Scortecci

Brasília

O presidente Lula (PT) se reuniu na noite de segunda-feira (20) com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para discutir a indicação para a vaga de próximo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Depois da conversa, ele decidiu adiar para o retorno de sua viagem à Ásia o anúncio do nome do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a corte.

Auxiliares de presidente afirmam que Lula mantém sua decisão, embora Alcolumbre tenha apontado sua preferência pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e alertado para dificuldades para aprovação do nome de Messias no Senado.

Lula já avisou a aliados que pretende indicar o advogado-geral da União para a vaga aberta com a saída de Luís Roberto Barroso do Supremo, oficializada na semana passada. O presidente embarcou na manhã desta terça (21) para Ásia e retorna ao Brasil daqui a uma semana.

Auxiliares do presidente esperavam a oficialização da indicação antes do embarque. A ideia era que houvesse uma edição extraordinária no Diário Oficial ainda nesta terça.

Mas Lula pretende ter uma conversa com Pacheco, que é ex-presidente do Senado, antes de anunciar sua decisão.

Ainda segundo pessoas a par da discussão, Lula gostaria de fazer esse gesto de consideração ao aliado. Auxiliares de Lula lembram que o presidente poderá fazer até quatro indicações para o STF em caso de reeleição e que, para esse projeto, contaria com uma candidatura forte em Minas.

O presidente já afirmou publicamente sobre os planos para que Pacheco assumisse uma candidatura ao Governo de Minas Gerais em 2026, um importante colégio eleitoral para o petista.

Abordado por jornalistas nesta terça no Senado, Alcolumbre não quis comentar o teor da conversa que teve com Lula na noite anterior. “O encontro foi muito bom. Tomei café, água mineral, queijo quente, pastelão”, desconversou ele.

Os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Flávio Dino são também apontados como apoiadores de Pacheco. O senador contaria ainda com a simpatia de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Gilmar, Moraes, Dino e Zanin se reuniram com Lula no Palácio da Alvorada na semana passada para discutir a sucessão de Barroso.

Conforme revelou a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha, o grupo não chegou a fazer uma indicação clara ao presidente, mas não escondeu predileção por Pacheco.

Os magistrados ponderaram que o país enfrenta uma realidade preocupante, citaram dados e afirmaram que um “nome fraco” para o STF pode debilitar a corte

Responsável pelo agendamento da conversa entre Lula e Alcolumbre, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), admite que o colega reafirmou sua torcida por Pacheco.

“O Alcolumbre colocou [a Lula] a torcida pelo Rodrigo Pacheco. Era o que eu esperava. Ele foi defender o nome de Pacheco. Eu acho que Lula está com convicção formada [pelo Jorge Messias], mas não quero me precipitar”, diz.

Jaques Wagner tomou café com o presidente Lula nesta terça, no Palácio da Alvorada, antes da viagem do mandatário à Ásia.

O líder do governo no Senado também afirmou que o presidente Lula está convencido de que o melhor nome a disputar o Governo de Minas Gerais é o de Pacheco.

Para Wagner, se a escolha de Lula for mesmo por Messias, o AGU não deve ter dificuldades para ser aprovado pela Casa. “Messias não é um nome que afronte ninguém, não é um nome que traga tensão”, diz.

Para fazer as indicações, Lula tem conversado com membros do Congresso e Supremo. Também estavam entre nomes cotados para a posição o chefe do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas.

O petista embarca na terça para participar da 47ª Cúpula das Associações do Sudeste Asiático e só volta ao Brasil no dia 28.

O chefe da Advocacia-Geral da União se tornou o preferido de Lula para a corte após se consolidar como a principal referência jurídica do governo, chamado pelo presidente a opinar inclusive em temas políticos.

Essa posição se consolidou no vácuo deixado por aquele que foi um dos principais opositores à escolha de Messias: o ministro Flávio Dino.

No papel de coordenador jurídico da transição de governo, Messias atuou na redação de decretos de reestruturação da Esplanada, incluindo a definição do Orçamento para 2023. No primeiro ano do governo, Lula passou a descrever Messias como eficiente e discreto no cargo, a ponto de cogitá-lo para o STF. A vaga foi, no entanto, ocupada por Dino, então ministro da Justiça.


Fonte: Folha de São Paulo

Traduzir »