CPI do INSS pede prisão de Nelson Wilians e aprova quebra de sigilo

Caio Spechoto

Brasília

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito do INSS) aprovou nesta quinta-feira (25) a quebra de sigilo bancário e fiscal do advogado Nelson Wilians. Também solicitou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) um relatório sobre transações financeiras de Wilians. Além disso, pediu a prisão preventiva do advogado –o que não quer necessariamente dizer que ele será preso.

A defesa do advogado afirmou, por meio de nota, colaborar com as autoridades competentes. Também disse, sobre as medidas da CPI, confiar que as decisões respeitarão a Constituição e as garantias asseguradas aos cidadãos.

Essa não é a primeira vez que a CPI do INSS aprova um pedido de prisão preventiva. Em 10 de setembro, o colegiado aprovou 21 dessas solicitações. Prender ou não os alvos dos requerimentos depende de decisão judicial e a comissão de inquérito apenas sugere.

requerimento foi aprovado antes da oitiva de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, depoimento que virou tumulto em seus primeiros minutos.

Endereços ligados a Wilians foram alvo de operação de busca da Polícia Federal, na mesma ação em que o principal acusado do esquema de descontos ilegais em aposentadorias, Antonio Carlos Camilo, foi preso. Foram apreendidas, por exemplo, esculturas e obras de arte, incluindo um quadro de Di Cavalcanti.

Além disso, a Polícia Federal listou transações consideradas atípicas de uma série de pessoas durante as investigações da operação Sem Desconto, marco inicial do escândalo dos desvios no INSS.

Os dados incluem movimentações de R$ 4,6 bilhões do escritório de advocacia e de uma empresa de investimentos de Nelson Wilians, feitas de julho de 2019 ao mesmo mês de 2024. São computadas tanto entradas quanto saídas de dinheiro.

O advogado depôs à CPI na semana passada e negou irregularidades. “Não tenho qualquer participação na chamada fraude do INSS. Nenhuma”, disse ele. No início da reunião, ele não quis se comprometer a dizer a verdade no colegiado –depois, com a oitiva em andamento, disse que todas as suas declarações são verdadeiras.

No depoimento, Wilians não mencionou diretamente, em sua primeira fala, o relatório que aponta os R$ 4,6 bilhões em transações, mas dedicou parte de suas considerações iniciais a mostrar a própria riqueza e dizer que ela foi conquistada honestamente.

“O escritório tem mais de mil advogados, cerca de 3.000 pessoas na nossa operação, filiais em todas as capitais, a matriz em São Paulo, aproximadamente 20 mil clientes, pessoas jurídicas. Essa é a estrutura que este que está aqui na frente de vocês construiu”, disse ele.

“No ápice do nosso escritório, quando nós advogávamos em juizado especial de pequenas causas em grande escala, chegamos a recolher R$ 2 milhões por dia de custas processuais”, declarou.

O advogado se recusou a responder a parte das perguntas feitas por deputados e senadores, o que irritou diversos integrantes da CPI. Congressistas de esquerda, principalmente, passaram a defender a prisão preventiva do advogado.

Tumulto em depoimento

O depoimento de Antunes começou com uma declaração inicial em que ele afirmou ser o maior interessado em esclarecer as acusações das quais é alvo. O depoente também disse que nunca tentou obstruir qualquer investigação e que sua prisão foi desnecessária. Ele declarou que jamais foi o “Careca do INSS”.

Ao concluir sua declaração, Antunes disse que responderia às perguntas dos deputados e senadores, mas não do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). O motivo, segundo o depoente, é que Gaspar vinha o chamando de ladrão nas reuniões anteriores.

É comum que perguntas sejam feitas mesmo se o depoente não se dispuser a responder. Alfredo Gaspar começou sua fala repetindo que Antunes é ladrão. “Estamos diante daqueles que praticou o maior roubo contra aposentados ou pensionistas do Brasil”, disse o relator.

O advogado de Antonio Carlos Antunes, Cleber Lopes, protestou reiteradamente fora do microfone, enquanto Gaspar falava mais alto. Em seguida, começou um tumulto. O deputado Zé Trovão (PL-SC) se levantou e foi até a mesa principal da comissão, onde gritava para o advogado “baixar a bola” com dedo em riste.

O deputado Duarte Jr. (PSB-MA), que presidia a sessão temporariamente, pediu ajuda aos seguranças do Senado. Lopes e Antunes ameaçavam deixar a sessão. O presidente do colegiado, Carlos Viana (Podemos-MG), voltou à reunião e afirmou que eles não poderiam fazer isso. Quando a ordem foi reinstaurada, Gaspar voltou a discursar e fazer as perguntas, que não foram respondidas, sempre se referindo ao depoente como “senhor Careca do INSS”.


Fonte: Folha de São Paulo

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