Além do relógio: como empresas que não vigiam tempo online medem produtividade do funcionário
Plataforma para medir o tempo gasto em determinados projetos, monitoramento semanal de demandas e sistemas de pontuações de tarefas realizadas. É assim que funciona a metodologia por entrega de empresas que decidem deixar seus funcionários trabalharem de onde quiserem desde que performem alta produtividade.
O conceito mudou nos últimos anos. Antes o termo tinha a ver com fazer mais com menos, preceito inspirado na Revolução Industrial, afirma a especialista em produtividade Ana Ceneviva. Hoje a lógica é diferente. Ser uma pessoa produtiva no trabalho é sinônimo de resolver problemas e entregar impacto.
Empresas vanguardistas já adotam esse novo jeito de medir desempenho. Agora não avaliam mais as pessoas pelo tempo que estão online, mas pelo resultado do que é feito durantes as horas trabalhadas, afirma Ceneviva.
“Por exemplo, se o gestor combina que a entrega não tem de ser 8 horas de trabalho, mas três projetos que gerem R$ 100 mil de retorno para a companhia, não me importa em quantas horas você fez”, cita.
Por outro lado, a especialista pondera que não há consenso de um modelo ideal para medir o desempenho no trabalho. A discussão sobre como as empresas monitoram produtividade, principalmente de profissionais que atuam remotamente, ganhou coro após o Itaú Unibanco realizar desligamentos por baixo desempenho a partir dos dados de softwares.
Funcionários escolhem onde trabalhar
Na SuperFrete, empresa de comércio eletrônico com 160 funcionários espalhados pelo Brasil, o foco é cumprir os combinados da semana. Para ajudar no planejamento e na entrega das atividades previstas, a empresa usa um aplicativo que estabelece pontuações a partir do volume de demandas. Caso o funcionário ultrapasse a média indicada pelo gestor direto, o programa envia um alerta.
“Todas as nossas demandas são relacionadas às metas da empresa”, ressalta Lívia Rigueiral, chief product officer da SuperFrete, acrescentando que o modelo também auxilia na autogestão das equipes.
Às segundas-feiras os líderes de cada setor checam as demandas e conversam individualmente em situações de baixo desempenho ou sobrecarga. “Temos acompanhamento direto com as pessoas, mas não observamos as horas porque não acreditamos nisso. A nossa cultura é entrega e resultado”, diz Rigueiral.
s não ligam mais para tempo ativo no computador corporativo Foto: Adobe Stock
Nem todas as empresas ignoram as horas trabalhadas, como faz a SuperFrete. Pelo contrário, boa parte das organizações brasileiras ainda associam produtividade à presença no escritório e ao tempo gasto aumentando a rede de contato no formato mais convencional, como em um cafezinho, aponta Pedro Teberga, professor e especialista em negócios digitais da ESPM.
Segundo Teberga, a lógica da “nova economia” é mais presente em companhias em fase de crescimento, sobretudo no setor de tecnologia.
Um exemplo é a Jobbis, empresa especializada em agentes de IA com um quadro de 16 funcionários. Por lá, não há horário fixo de entrada ou saída, nem obrigatoriedade de ir ao escritório, alguns colaboradores, inclusive, moram no exterior. Porém, a entrega da semana é cobrada, independentemente do fuso horário.
Não é demagogia. Não vou manter uma pessoa duas horas num ônibus nem enclausurar em um escritório para microgerenciar. Tem gente que viaja, não ligo. O que queremos é entrega”, conta Diego Cerqueira Lima, fundador da companhia.
A Jobbis realiza reuniões diárias e usa o programa Jira para acompanhar as demandas de cada equipe, que também gerencia projetos e cria períodos fixos de tempo para entregas e lista de tarefas pendentes.
Embora não seja usado para medir produtividade, outro sistema da empresa registra quanto tempo cada funcionário permanece ativo nos aplicativos corporativos.
Cerqueira menciona que houve alguns desligamentos decorrentes da dificuldade de adaptação ao modelo baseado em autogestão. “Mas só depois de vários feedbacks”, justifica. Segundo o empresário, não há treinamentos formais para uso das ferramentas. Ele afirma que o alinhamento institucional feito com recém contratados é o suficiente para que as lideranças consigam gerenciar bem as entregas.
Para a especialista Ana Ceneviva, a falta de treinamento pode ser um problema em algumas empresas, principalmente aquelas que nasceram no formato presencial, pois precisam requalificar os líderes para usar os softwares de gestão. Ela ainda alerta que executar demandas com baixo nível de supervisão exige autorresponsabilidade e nem todos os profissionais dominam essa habilidade.
Métrica da confiança
Na Dbout, agência de marketing digital especializada em clínicas odontológicas, a demanda de treinamentos para o uso eficaz das plataformas vem do perfil dos profissionais. Do total de quadro de funcionários, 80% tem menos de 26 anos. Segundo Luís Parrela, CEO da empresa, os colaboradores são mais abertos e preferem menos hierarquia, mas também dependem de um acompanhamento mais detalhados.
Com foco em resultados, a empresa avalia a produtividade por KPIs (indicadores-chave de desempenho) e ferramentas como Notion, Trello e CRM (voltada para vendas). Há também um sistema que monitora ligações e o tempo ativo nas plataformas da empresa, embora o CEO afirme que controlar o tempo “não é uma prioridade”.
“Eu vejo essa forma de monitorar produtividade como uma facilidade”, defende Parrela.
Já para Ana Ceneviva, o monitoramento de atividades (tempo de tela, cliques, abertura de aplicativos) não é eficaz para medir produtividade de cargos mais complexos, por exemplo. Na prática, a confiança entre o que é feito e o que é reportado ainda é a métrica mais usada pelas empresas, reforça Ceneviva.
“Quando essa conversa existe e não tem ruído, a questão da produtividade fica muito clara”, avalia. A especialista estima que o resultado das entregas nunca deve deixar de ser cobrado. Hoje o que muda é a maneira como as pessoas chegam nesse resultado. A tecnologia deve seguir monitorando o que é entregue, no entanto, cabe ao gestor entender como o colaborador chegou a esse resultado.
mposto sobre aluguéis: Haddad tenta reduzir polêmicas, mas gera mais confusão
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, publicou na terça-feira, 16, um vídeo para explicar a tributação de aluguéis e tentar reduzir as polêmicas que surgiram no mercado de que haverá aumento de imposto. Mas o vídeo gerou ainda mais confusão.
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No Fala, Duquesa! desta semana, a colunista do Estadão Maria Carolina Gontijo, a Duquesa de Tax, reage ao vídeo do ministro. Segundo ela, a comunicação do governo tem destacado somente pontos convenientes, sem esclarecer os efeitos práticos para os contribuintes.
“O ministro não disse nenhuma mentira, mas deu um enfoque em certos fatos que, para ele, ficam muito bons. Na prática, a redução de impostos para empresas que alugam imóveis até R$ 600 não muda quase nada, porque esse valor já está defasado e pouco se aplica nas capitais brasileiras”, disse a Duquesa.
Segundo ela, a medida pode até gerar algum alívio para empresas, mas ignora a realidade de que pessoas físicas com mais de três imóveis alugados ou renda anual acima de R$ 240 mil passarão a ser tributadas. “É sobre isso que tá todo mundo falando que pode aumentar o valor dos aluguéis. E o impacto disso, é lógico, vai bater no bolso de quem aluga”, afirmou.
A Duquesa de Tax ainda criticou como o debate tem sido conduzido. “Dá para termos uma conversa franca e madura sobre a reforma, sem distorcer os fatos.” O problema é que, ao destacar só uma parte da história, instala-se a confusão, diz ela.
Programa Todas as quintas-feiras, às 9h30, a Duquesa de Tax faz reacts (comentários sobre outros vídeos ou entrevistas) do noticiário econômico no Estadão. Além disso, tem o programa semanal Não vou passar raiva sozinha. Os vídeos inéditos vão ao ar sempre às segundas-feiras, às 9h30, para assinantes do Estadão. Cortes do programa são distribuídos ao longo da semana nas redes sociais e na Rádio Eldorado. A atração também tem uma versão em podcast.
Fonte: Estadão
