Grandes nomes da República e exército de advogados: como a J&F encerrou uma novela de R$ 15 bilhões

Batalha com a Paper pela Eldorado foi travada ao longo de sete anos em diversos campos jurídicos e regulatórios, inclusive no exterior, e apenas em despesas advocatícias consumiu centenas de milhões

O negócio de venda da Eldorado Brasil Celulose, que começou em 2017 com uma transação amigável entre o grupo brasileiro J&F e o indonésio Paper Excellence, tornou-se, a partir do ano seguinte, uma bilionária disputa corporativa que só terminou nesta quinta-feira, 15. A assinatura do acordo de paz se deu com o pagamento à vista de R$ 15 bilhões pelas ações da fabricante de celulose da empresa estrangeira.

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Com o acerto, termina uma das maiores disputas corporativas do País. Ela se iniciou em 2018, após um desentendimento quanto ao pagamento pelos 50,59% das ações que a J&F ainda tinha na Eldorado. No ano anterior, o holding brasileira havia vendido uma fatia de 49,41% da empresa de celulose para a Paper e se comprometido a repassar o controle completo do negócio após 12 meses. A transação completa custaria para a Paper também R$ 15 bilhões, mas incluindo a totalidade das ações que estavam nas mãos da J&F, de fundos e do executivo José Carlos Grubisich, além de dívidas.

A assinatura do acordo desta semana entre a J&F — holding dos irmãos Batista e que controla também a JBS — e a Paper, do empresário Jackson Wijaya, encerra todas as ações judiciais e arbitrais em curso, no Brasil e no exterior, e garante um retorno significativo para a vendedora. Por sua participação adquirida em 2017, a Paper havia pagado US$ 1,1 bilhão, o equivalente a R$ 3,8 bilhões, segundo o câmbio da época. Os R$ 15 bilhões que ela recebe agora representam em torno de 10 vezes o Ebitda (lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização) da Eldorado em 2024.

A briga por quem teria o controle da Eldorado não chamou atenção apenas pelos valores bilionários envolvidos e por ter se estendido por longos sete anos. Em suas dezenas de processos de lado a lado, liminares, pedidos de intervenções de órgãos reguladores e acusações de irregularidades, trouxe para a ação dezenas de advogados e nomes famosos da República.

As partes estimam que cerca de uma centena de advogados de diversos escritórios conhecidos participaram, pelo menos, em partes da disputa, mesmo que em alguns casos contratados apenas para serem bloqueados de trabalharem para o lado rival. A Paper chegou a estimar, para um pedido de indenização que seria feito em uma arbitragem a ser aberta em Paris, que teria gastado em torno de R$ 300 milhões com cerca de 40 advogados. A J&F não revelou quanto gastou em toda a disputa.

Além de conhecidas bancas de advocacia, atuaram a favor das empresas o então advogado Cristiano Zanin, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o constitucionalista e ex-presidente da República Michel Temer, o ministro Ricardo Lewandowski, o advogado Frederick Wassef, amigo e defensor do ex-presidente Jair Bolsonaro, e a advogada Roberta Rangel, mulher do ministro do STF Dias Toffoli. Depois de colocar ativos à venda, como a Alpargatas e a Vigor, em momento que era alvo da Operação Lava Jato, o grupo J&F negocia a venda da Eldorado Celulose com a chilena Arauco, que pagaria R$ 14 bilhões. No entanto, o negócio é fechado com a indonésia Paper Excellence, que se dispõe a pagar R$ 15 bilhões para deter 100% das ações da empresa, com um pagamento. Até fim do ano, a estrangeira desembolsa R$ 3,8 bilhões por 49,41% das ações, em participações que pertenciam à J&F e outros acionistas.


Fonte: Estadão

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