Indústria de máquinas do Brasil vê tarifa de 10% como trava na exportação aos EUA, mesmo com trégua

Em um primeiro momento, o acordo firmado entre autoridades dos Estados Unidos e da China nesta segunda-feira, 12, não altera as condições atuais para o setor siderúrgico e para indústria de máquinas e equipamentos do Brasil, disseram representantes de entidades desses setores. Foi fixada uma trégua de 90 dias na guerra comercial travada pelas duas potências globais desde 1° de abril, com redução de alíquotas para a maioria dos produtos comercializados entre as duas.

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Pelo entendimento entre EUA e China, nesse período as tarifas para produto chinês no mercado americano caem de 145% para 30%, e as chinesas para importação de produtos americanos de 125% para 10%. Porém, ficou definido que não inclui taxas sobre automóveis, aço (70%) e alumínio, bem como os possíveis impostos de importação de medicamentos farmacêuticos.

Para José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), “no momento é difícil mensurar reflexos no Brasil ao seu setor. “A tarifa de 30% (fixada pelos EUA) não é um embargo, mas é importante”, afirma. “Nos EUA, os investimentos pararam por conta das indefinições, que ainda continuam. O recado diz 90 dias. Muito cedo para saber.”

Esse período foi acertado para que as duas nações avancem negociações para fixação de tarifas que vão nortear o comércio bilateral futuro entre ambos.

Segundo Velloso, no ano passado, antes da volta de Trump, as importações de máquinas da China para o Brasil aceleraram muito. Cresceram 34%. “Coincidentemente, foi quando o Brasil protegeu o aço tirando nossa competitividade. Os chineses começaram a invadir o Brasil mesmo antes do recrudescimento da guerra comercial de Trump”.

Para o setor de máquinas, o problema é maior, diz o executivo. “Os EUA são fabricantes importantes de máquinas. Concorrem conosco, não somos complementares como no aço. Exportamos para lá US$ 3,6 bilhões e importamos US$ 4 bilhões. Nosso problema é a imposição dos 10% (alíquotas recíprocas) para exportar aos EUA”.

Segundo Velloso, isso tirou competitividade, já afetada por regimes tributários especiais no Brasil, ex-tarifário, Repetro, Reporto e outros. “Isso vai prejudicar nossas exportações”.

Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, afirma que, para o aço brasileiro, não muda nada o acordo firmado entre EUA e China. “A tarifa, no caso de aço, dos EUA para a China, continua em 70%”.

A China, com essa tarifa americana, fica impedida de entrar no mercado americano e desova excedentes de produtos siderúrgicos para países da América Latina. Somente para o País, em 2024, do total de aço importado (planos e longos), cerca de 70% teve como origem a China. O Brasil foi taxado em 25% nos embarques ao mercado americano.

Redução da incerteza e maior previsibilidade

Quanto ao acordo, Lopes observa que “todo movimento no sentido de buscar o entendimento entre as duas maiores economias do mundo é muito positivo”.

“A redução das tarifas aplicáveis mutuamente entre EUA e China é uma sinalização muito importante de que as duas grandes potências caminham para finalizar um acordo comercial, estabilizando as relações comerciais bilaterais”, afirma Renê Medrado, sócio do Pinheiro Neto Advogados e especialista em Direito Aduaneiro e Comércio Internacional.

Para Medrado, ainda que limitado temporalmente a 90 dias e condicionado à continuidade das negociações, o acordo tem o potencial de favorecer a retomada gradual do fluxo de comércio entre as duas maiores economias do mundo, o que contribui para a redução da incerteza e para maior previsibilidade no regime tarifário aplicável no comércio internacional. Para o Brasil, afirma o especialistas, os efeitos concretos dependerão da evolução e resultado das tratativas bilaterais subsequentes. “De todo modo, a diminuição da volatilidade global e o possível restabelecimento de padrões mais estáveis de comércio tendem a beneficiar a economia brasileira, por permitir maior previsibilidade ao planejamento das exportações e ao funcionamento das cadeias globais de valor”, acrescenta.


Fonte: Estadão

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