Piora dos mercados preocupa Fazenda, que teme efeito no juro e ‘bombas’ no Congresso; leia bastidor

BRASÍLIA – O dia seguinte à mudança nas metas fiscais de 2025 e 2026 foi de ressaca e preocupação no Ministério da Fazenda. O anúncio foi avaliado pela pasta como correto e ainda coerente com uma trajetória de estabilização da dívida pública, mas o timing não poderia ter sido pior.

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Coincidiu com o agravamento do cenário externo, que levou o dólar ao maior patamar em mais de um ano, e com notícias negativas vindas do Congresso Nacional – que podem tirar mais alguns bilhões de reais dos cofres públicos neste e nos próximos anos.

E tudo isso com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fora do País, em reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, nos Estados Unidos. O Estadão apurou que a nova trajetória esperada para os juros norte-americanos, que tira a atratividade de países emergentes, não estava no cenário-base da equipe econômica, que teme os efeitos do repique do dólar sobre a inflação e, consequentemente, sobre a taxa de juros brasileira.

Nesse cenário, o debate sobre um ciclo mais curto de cortes da Selic ganhou força, com parte do mercado já revendo os números. Uma taxa de juros estacionada em patamar mais elevado significa crédito mais caro, com impacto no PIB e na geração de empregos – tudo o que a ala política do governo não quer nem ouvir falar, em meio à queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a às vésperas das eleições municipais.

Haddad, em fala durante evento do FMI, atribuiu dois terços da piora do mercado ao cenário externo e apenas um terço às questões fiscais internas. Mas esse um terço também está tirando o sono da equipe econômica – sobretudo após as últimas notícias vindas do Congresso.

A extinção do Perse, o programa que concede benefícios tributários ao setor de eventos, foi retirada de uma medida provisória (MP) editada pelo governo com o objetivo de eliminar o socorro criado na pandemia, visto como falho e suscetível a uma série de fraudes. Agora, a Fazenda tem até o fim de maio para construir um acordo de meio-termo em torno do projeto de lei que trata do mesmo assunto e já calcula os prejuízos. As negociações com a relatora do tema, Renata Abreu (Podemos-SP), giram em torno da manutenção do limite de R$ 78 milhões para empresas que possam usufruir do benefício ou um faseamento mais curto para o fim do programa. O governo prevê gastar R$ 8 bilhões neste ano, caso o Perse não seja desidratado – valor que amplia o desequilíbrio fiscal.


Fonte: Estadão

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