ESG já influencia preço em processos de fusões e aquisições, diz Deloitte

Os compromissos das companhias com redução da emissão de gases efeito estufa, com direitos humanos e impacto social de suas atividades estão fazendo preço nas transações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), de acordo com a Deloitte, que acaba de conduzir uma pesquisa com mais de 120 empresas. Essa é uma tendência nova e que tem feito parte de forma crescente nas diligências nas empresas alvos de transações de M&A

Além da questão reputacional, há um movimento muito forte de checagem das metas ESG e o quanto será preciso investir nesse sentido, o que pode acabar tendo impacto no preço e até na decisão de seguir à frente ou não com a transação”, diz a sócia líder da prática de Estratégia, Analytics e M&A da Deloitte, Vênus Kennedy.

A Deloitte identificou ainda em sua pesquisa que as companhias têm dedicado mais tempo nos processos de diligência na captura de sinergias para identificar antecipadamente o real valor da transação.

Companhias revelam frustração de objetivos em transações

O estudo mostrou que 35% das respondentes atingiram parcialmente seus objetivos em operações de M&A realizadas. Outros 8% não chegaram a seus objetivos e, nesse grupo, 24% disseram que a precificação não foi correta. “Muitas empresas estão tendo dificuldade de ver o retorno que foi estimado quando avaliaram a transação”, afirmou o sócio de consultoria empresarial da Deloitte, Matt Birtwistle.

Kennedy acrescenta que para não errar o preço, as companhias estão integrando a inteligência artificial (IA) como ferramenta para chegar a melhor estimativa de valor da empresa que vai ser adquirida e assim serem mais assertivas no retorno do investimento feito na transação de M&A. Entre as companhias entrevistadas, 61% apoiaram seus negócios em tecnologias como IA e Analytics em diversas etapas das operações de M&A.

Mas aspectos econômicos e especialmente a elevação da taxa de juro no Brasil e no mundo estão impactando negativamente o valor das empresas e os preços que os compradores estão ofertando pelos ativos. “O mercado está nas mãos dos compradores”, disse Kennedy, acrescentando que se trata de um fenômeno global, que não ocorria há cerca de 10 anos.

Há diferença de expectativas entre compradores e vendedores

“Existe hoje um ‘gap’ muito grande entre as expectativas de valor dos compradores e dos vendedores, que ainda têm memória dos altos múltiplos que foram praticados entre 2020 e 2022″, afirmou. Esse aspecto tem freado a conclusão de várias negociações e a expectativa é de que a diferença de visão no valor se acomode.

Entre janeiro e outubro deste ano, foram realizadas 1.728 transações de M&A, número similar ao ano de 2019, mas bastante abaixo dos picos de 2021 (2.890) e 2022 (2.678). Nesses dois anos, o número de transações disparou como reflexo da conclusão de operações que ficaram paradas durante a pandemia e da aceleração de operações com viés na digitalização e eficiência tecnológica de negócios.

Ou seja, uma maioria das M&As vem se concentrando em tecnologia desde a pandemia, a despeito do ambiente macroeconômico desafiador. Esse movimento deve continuar, segundo ambos os executivos, e garantir que em 2024, o numero de transações cresça em relação a este ano. No entanto, os volumes movimentados podem não ser enormes, uma vez que os alvos no setor de tecnologia são muitas vezes startups.


Fonte: Estadão

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