Empresas captam bilhões com debêntures em meio à queda da selic e demanda em alta
A lista das captações bilionárias por meio de debêntures está crescendo, com as empresas aproveitando a queda da Selic e a volta às compras pelos gestores de fundos de crédito. A Eletrobras levantou R$ 7 bilhões na semana passada, depois de encontrar uma demanda de quase duas vezes o que ofertou. Ainda, conseguiu acessar o mercado a um custo inferior ao que esperava inicialmente. Antes dela, a TIM e a Aegea levantaram R$ 5 bilhões cada uma.
Desde maio, tem ganhado tração o mercado de dívida local, onde as debêntures são o principal instrumento utilizado para as captações. Foi em maio que o impacto da crise com Americanas e Light começou a se dissipar.
Apesar da arrancada no fim do semestre passado, o resultado de 2023, em termos de volume captado, não deve alcançar o registrado em 2022. Os quatro primeiros meses de 2023 – quando o mercado de dívida ficou quase que congelado – pesam contra o resultado final do ano.
Até agosto, empresas captaram R$ 110 bilhões em debêntures
De janeiro até agosto, as empresas levantaram R$ 110 bilhões com emissão de debêntures, mostrou o mais recente levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Há outros R$ 5 bilhões em novas emissões já anunciadas nos primeiros 15 dias de setembro. Em todo o ano de 2022, as emissões de debêntures alcançaram cerca de R$ 270 bilhões, de acordo com a Anbima.
Por trás dessa melhora do mercado de crédito local está o início do ciclo de corte da taxa Selic, que se espelha na curva futura de juros, e beneficia a perspectiva de retorno dos ativos de crédito privado. Contribui ainda a interrupção dos resgates nos fundos de crédito, com algumas entradas já sendo registradas, somada à necessidade dos gestores de reciclar ativos que estão vencendo.
“Isso está trazendo de volta as empresas e o pipeline está aumentando”, diz o gerente-executivo de fundos de renda fixa da BB Asset, Flávio Mattos. Ele explica que com o cenário macroeconômico mais benigno do que nos primeiros seis meses do ano, o prêmio de risco exigido pelos investidores para comprar novas debêntures cai – favorecendo o interesse das companhias em emitir.
Com juros em queda, retorno do crédito privado aumenta
Do lado do investidor, com a Selic em contração e, consequentemente, o CDI, o retorno dos ativos de crédito privado fica mais atrativo. Isso porque a pessoa física geralmente usa um “porcentual do CDI” como referência para avaliar o retorno de um investimento em renda fixa. Ao ser vendido, um CDB, por exemplo, é ofertado por oferecer retorno de “90% do CDI” ou “100% do CDI”. “Esperamos continuidade dessa recuperação do mercado, porque com o CDI caindo, o rendimento para os clientes proporcionalmente vai ficar maior”, afirmou.
O sócio da JGP, Alexandre Muller, diz que o mercado entrou em uma espiral de melhora e que o índice compilado pela casa, o JGP Idex CDI, atingiu em agosto seu melhor retorno no ano. O índice, que agrega quase 319 debêntures de cerca 169 emissores com rating médio AA, apresentou retorno equivalente a 0,74% acima do CDI do mês. Segundo ele, o retorno espelha a valorização acumulada pelos ativos, mas também uma contração dos prêmios de risco das debêntures do índice.
Muller afirma que já houve uma contração de 60% dos prêmios de risco em relação ao pico de março deste ano. “Estamos apenas 40 pontos-base acima do nível da virada do ano”, afirmou. No fim de 2022, o prêmio estava entre 1,80% a 1,90%. No momento mais crítico deste ano, que foi em março, atingiu o pico a 3,10%.
Prêmios de risco devem cair para a faixa de 1,50%
Mattos, da BB Asset, acrescenta que a perspectiva é de que até o fim de 2023 esses prêmios possam chegar a uma faixa de 1,50%. Ele acompanha o índice da Anbima, IDA-DI, que mostram hoje prêmio médio de 2,19% exigido pelos investidores para comprar debêntures que estão na cesta do índice.
Muller diz que uma amostra ampliada da JGP que acompanha todos os fundos de crédito que tenham mais de 50% alocados no crédito privado mostrou captação positiva de R$ 4,4 bilhões em agosto. “Em março, que foi o pior mês deste primeiro semestre, chegou a ser registrada saída de R$ 23 bilhões”, diz.
O sócio da JGP lembra que os bancos voltaram a conceder crédito, o que é um indício de uma melhora sensível do humor do mercado em relação ao previsto.
Fonte: Estadão