Maltratadas, ações de indústrias veem luz no fim do túnel
Índice que reúne setor tombou 18% diante de alta dos juros, mas pode inverter tendência quando taxa cair
As Bolsas nos Estados Unidos fecharam o terceiro trimestre consecutivo em queda. Desde o início do ano, Dow Jones e S&P 500 —os principais índices de ações—, caíram 20% e 24%, respectivamente. No Brasil, intercalamos dois trimestres no azul com um no vermelho, com um ganho de mais de 4,5% de janeiro para cá.
É impossível nos descolarmos da \”matriz\”. Mas é inegável que estamos numa boa onda em relação ao que vemos fora daqui.
Os bancos brasileiros chamam a atenção. Como falei em colunas anteriores, eles se beneficiam da alta dos juros. Dinheiro mais caro é bom para quem empresta e ruim para quem precisa.
O índice que reúne ações de instituições financeiras (IFNC) voou praticamente 18% no ano —quatro vezes os ganhos do Ibovespa. Nos últimos três meses, foram 16% de alta no IFNC contra 10% do Ibovespa.
Os especialistas dizem que estamos perto do teto dos juros. Mas enquanto eles não começarem efetivamente a baixar, saindo dos temidos dois dígitos, as ações do setor tendem a continuar numa boa.
Quem sofreu até agora com isso foram justamente os que dependem de dinheiro circulando, ou melhor, de gente gastando dinheiro. Varejistas, construtoras, farmácias… Não à toa, o Icon, índice que reúne a ações relacionadas a consumo, despencou mais de 11% neste ano.
A falta de crédito barato para investir em expansão também maltratou os papéis das indústrias. O tombo foi de 18% no INDX, índice com as ações das indústrias brasileiras, que vão de Camil (do arroz) à Gerdau (metalúrgica).
A correlação entre a movimentação dos juros e o sucesso desses setores é clara. Por isso, olhar quem sofreu com a Selic alta é uma excelente peneira para localizar quem pode dar dinheiro para seus investidores quando a inflação estiver sob controle o bastante para o Banco Central começar a derrubar as taxas.
É verdade que as economias (aqui e no mundo) ainda estão em um longo tratamento dos efeitos colaterais da pandemia de Covid-19. E a recuperação se dá de forma mais do que desigual.
Na hora de decidir as ações a comprar, é preciso ter clareza em relação aos motivos das quedas e das altas, para não cair em armadilhas.
Em resumo, não é porque caiu muito que não pode cair mais. Investidores que acreditaram que o IRB Brasil Resseguros (IRBR3) e a Cogna (COGN3) estavam no \”fundo do poço\” em março de 2020, quando a Covid fez aquele estrago na Bolsa, amargam prejuízo até hoje.
Mas é inegável que há sinais positivos no horizonte para os setores que, hoje, estão bastante descontados em relação ao começo do ano.
Fonte: Folha de São Paulo