Sobem os juros na Zona do Euro
Para a maioria dos brasileiros a Europa é um continente distante e pouco do que acontece por lá produz consequência por aqui. Não é verdade. A guerra na Ucrânia é demonstração de que vagalhões produzidos na Europa produzem turbulências aqui no Brasil.
Não é trivial que, nesta quinta-feira, 21, o Banco Central Europeu (BCE) tenha aumentado os juros pela primeira vez em 11 anos. E menos trivial ainda que esta primeira alta tenha sido uma pancada de 0,5 ponto porcentual – e não de menos.
Isso já diz muita coisa. Diz, por exemplo, que o BCE demorou demais para começar a acionar a política de juros para combater a inflação que, em junho, avançou para 8,6% em 12 meses. Seu pressuposto era mais ou menos o mesmo das autoridades do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), para as quais essa inflação de custos, produzida pelos choques de oferta do petróleo e dos alimentos, não responderia facilmente a um aperto dos juros. E que, por isso, era preciso esperar que recuasse naturalmente.
Diz, também, que o medo principal das autoridades monetárias era o de que a alta dos juros provocaria recessão, numa economia que já enfrentava problemas, como o risco de falta de combustíveis, insegurança alimentar e incertezas geopolíticas em consequência de uma guerra sem prazo para acabar.
Em entrevista concedida logo depois do anúncio da alta dos juros, a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou, sem muita convicção, que não haverá recessão na zona do euro. E deu mostras de que não sabe o que acontecerá nos próximos meses diante das incertezas na região. Por isso desistiu de antecipar os passos seguintes da sua política (forward guidance), prática que tem por objetivo ancorar as expectativas do mercado e dar eficácia ao combate à inflação.
O atraso dos grandes bancos centrais para atacar a inflação mostra que o Banco Central do Brasil acertou ao se antecipar a elevar a Selic, hoje em 13,25% ao ano. Esta é uma das razões pelas quais o Brasil já produziu uma primeira inversão do ciclo inflacionário.
Esta não é garantia de que a inflação não volte a subir por aqui porque há incertezas pela frente: turbulências eleitorais, deterioração das contas públicas, comportamento incerto dos preços dos combustíveis, especialmente a partir de janeiro, quando a redução de impostos e os subsídios devem acabar.
Falta saber até que ponto as economias avançadas entrarão em recessão. A queda dos preços das matérias-primas e do petróleo é indício de desaceleração, não apenas em consequência da alta dos juros nos Estados Unidos e na Europa mas, também, pelas restrições ao crescimento da China. Em consequência, falta saber até que ponto o aumento de risco da recessão global freará também o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Fonte: Estadão