Preço do petróleo deve ajudar economia do Brasil neste ano, diz FMI
Fundo projeta alta de 0,8% para a economia brasileira em 2022, e reduz projeção para a economia global
Rafael Balago
Washington
O Brasil deve se beneficiar da alta do petróleo e terminar 2022 com crescimento de 0,8%, aponta um relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgado nesta terça (19). No entanto, o país deve seguir com inflação alta, em torno de 8,2%, e desemprego na faixa de 13,7%, prevê a instituição.
A projeção atual de crescimento do Brasil, citada no estudo World Economic Outlook (Perspectiva Econômica Mundial) é 0,5% maior do que a estimativa divulgada em janeiro, que previa alta de 0,3% no ano. No entanto, o valor é quase metade do citado na previsão feita há seis meses. Em outubro de 2021, o FMI previa que o país cresceria 1,5% em 2022.
\”O Brasil tem um dos números mais baixos em nossa projeção de crescimento para a região. A maior parte disso se deve a um ciclo agressivo de aperto por parte do Banco Central do Brasil para conter as pressões da alta de preços. Ao mesmo tempo, o Brasil é um exportador de petróleo e está se beneficiando do aumento de preços de petróleo e energia. Então, há uma revisão para cima\”, disse Pierre-Olivier Gourinchas, diretor de pesquisa do FMI, em entrevista coletiva, após pergunta feita pela Folha.
O preço do barril de petróleo no mercado internacional passou a flutuar na faixa de US$ 100 após o começo da Guerra da Ucrânia. Há um ano, custava em torno de US$ 60.
Perguntada sobre o possível impacto das eleições presidenciais brasileiras para a economia brasileira, Petya Brooks, vice-diretora de pesquisas, disse que \”de forma geral, qualquer tipo de incerteza eleitoral e política não são fatores positivos para o crescimento\”.
A última edição do boletim Focus, publicada pelo Banco Central no fim de março e que soma as expectativas do mercado brasileiro, apontou previsão de crescimento de 0,5% do PIB. Em fevereiro, o Brasil tinha taxa de desemprego de 11,2%. Em março, a inflação somada em 12 meses chegou a 11,3%, segundo dados do IPCA.
O FMI rebaixou a previsão de crescimento da economia global de 4,4% para 3,6% na comparação com o relatório de janeiro. Quase todos os países analisados tiveram piora de perspectivas, por causa da Guerra da Ucrânia.
A Rússia, que iniciou o conflito e foi alvo de sanções internacionais, deve ver sua economia encolher em 8,5% este ano, em meio a uma inflação anual de 21,3%, prevê o Fundo.
Os efeitos econômicos da guerra, que começou em fevereiro, se espalham em ondas para outros países, como em um terremoto, compara o instituto. \”Como a Rússia é um grande fornecedor de petróleo, gás e metais e, junto com a Ucrânia, de trigo e milho, a queda na oferta dessas commodities já tem elevado os preços de forma afiada\”, aponta o relatório. \”A alta de preços de comida e combustíveis afetará as casas de baixa renda em nível global.\”
Em 2022, a inflação deve ficar em torno de 5,7% ao ano nas economias avançadas e em 8,7% em países emergentes e em desenvolvimento. Para o Brasil, o FMI prevê alta de 8,2% nos preços neste ano e 5,1% em 2023. \”O Brasil respondeu à alta inflação com um aumento nas taxas de juros, o que pesará na demanda doméstica\”, comenta o Fundo no relatório.
O FMI também considera que a guerra reduziu o apetite dos investidores por riscos e aumentou o interesse por mercados considerados mais estáveis. E prevê que os níveis globais de emprego e produção devem voltar ao patamar pré-pandemia só em 2026.
Outro entrave à recuperação da economia global são os lockdowns na China, adotados para conter surtos de Covid, como o que paralisou Xangai. Eles podem gerar novos problemas nas cadeias internacionais de suprimentos.
Assim, as faltas de produtos podem se estender até o começo de 2023, projeta o FMI. \”Como resultado, agora as projeções são de que a inflação permanecerá elevada por muito mais tempo do que em nossa projeção anterior, tanto em economias avançadas quanto em mercados emergentes ou em desenvolvimento\”, aponta o estudo.
Com isso, há o risco de que as expectativas sobre a inflação fiquem sem controle, gerando um ciclo que pode levar os bancos centrais a darem respostas mais agressivas, prevê o FMI. \”Nos próximos meses, espera-se que as taxas de juros subam mais\”, aponta o documento.
O instituto recomenda que os bancos centrais atuem de forma mais rápida e precisa, para que as ações contra as altas de preço sejam efetivas e gerem menos danos à retomada econômica.
A China é uma exceção na questão inflacionária: a alta de preços lá deve ficar em 2,1% ao ano, enquanto altas históricas são registradas em muitas partes do mundo. A previsão de crescimento do PIB chinês caiu de 4,8% para 4,4%, na comparação com o relatório anterior do FMI. A redução de crescimento da China também piora as perspectivas para o Brasil, já que o país é o maior destino de exportações brasileiras.
Outros Brics também tiveram piora nas projeções do PIB. A Índia deve crescer 8,2% (antes seria 9%) e a África do Sul 1,9%.
O FMI também alerta que a alta de preços de comida e combustíveis, que representam até 40% do total de gastos de famílias pobres, pode gerar caos social, como aumento de protestos e crimes. O fundo defende que os governos e a comunidade internacional aumentem as formas de proteção social
\”Estimulamos os países a implementarem políticas fiscais que deem apoio à população vulnerável. Em alguns países, isso pode ser feito em forma de pagamentos em programa sociais já existentes. Isso precisa ser feito por meio de subsídios à comida e energia que sejam calibrados cuidadosamente e de modo temporário, para garantir que não criem outro problema, que seria esgotar os recursos fiscais\”, disse Gourinchas.
O relatório aponta também que as consequências da guerra podem ampliar a desigualdade de renda entre os países ricos e pobres, bem como o de gerar uma economia global mais dividida entre blocos geopolíticos, que teriam tecnologias e meios de pagamento distintos, que pouco conversariam com o resto do mundo. \”Esta mudança pode causar perdas de eficiência, aumento da volatilidade e um grande desafio ao sistema de regras que governa as relações internacionais há 75 anos\”, apontou o diretor.
Fonte: Folha de São Paulo