Ciro Nogueira descarta, por ora, subsídios a combustíveis

Ministro também afasta intenção de revisar a política de preços, mas diz que há expectativa de maior transparência na comunicação

Julia Chaib Marianna Holanda Mateus Vargas

Brasília

O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) afirma que o governo não tem a intenção de alterar a política de preços da Petrobras e diz que a ideia de um subsídio para conter a inflação dos combustíveis está, no momento, descartada.

Depois de dias de impasse, o governo Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira (6) a terceira troca no comando da companhia, ao indicar para a presidência da petroleira José Mauro Ferreira Coelho, presidente do Conselho de Administração da estatal PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.).

O ministro disse que a mudança foi uma decisão do presidente Jair Bolsonaro (PL), que espera mais \”transparência\” na comunicação da política de preço da companhia. Mas ele reforça que a intenção do governo não é interferir na estatal.

\”É uma situação demagógica dizer que vai tornar o preço dos combustíveis em real. O arroz é em dólar, o feijão é em dólar, o álcool é em dólar\”, disse à Folha. \”A Petrobras vai continuar totalmente independente\”, completou.

Desde que a guerra na Ucrânia pressionou o preço dos combustíveis e a estatal fez um mega-aumento nos valores, Bolsonaro passou a criticar a gestão da companhia e chegou a sugerir mudança na política de preços.

Segundo o titular da Casa Civil, a ideia de se conceder um subsídio era pensada no cenário em que o barril do petróleo chegava a US$ 200. Agora, a tendência tanto do dólar como do preço dos combustíveis é de queda, por isso, a hipótese está descartada no momento.

Apesar de Bolsonaro ter dado declarações públicas sinalizando que o general Silva e Luna —que deixará o comando da Petrobras— deveria rever o mega-aumento no preço dos combustíveis, o ministro afirma que a pressão não partiu do presidente, mas \”das ruas\”.

\”É pressão das ruas, da população que às vezes não entende como somos autossuficientes em petróleo e temos que ficar com essa dependência [de refinarias do exterior]\”, diz. Para Nogueira, a estatal falha na sua comunicação e precisa explicar melhor a forma como se dá a composição de preços que resultam no valor final dos combustíveis.

Questionado sobre o que o presidente espera da nova gestão da Petrobras, diz: \”Que dê mais transparência a essa situação. Eu acho que a Petrobras erra muito na sua comunicação, de explicar para a sociedade os componentes do preço\”.

\”[Tem que explicar] Quem é que está cobrando e o que as pessoas, ao abastecer o seu carro, estão pagando\”, avalia.

O ministro também atribui aos governadores o aumento no preço dos combustíveis na ponta. De acordo com ele, as gestões estaduais elevaram suas arrecadações em cima de impostos que cobram sobre o preço da gasolina, por exemplo.

\”Ao contrário do governo federal, que não arrecadou nada mais, pelo contrário, nós abrimos mão de arrecadação, os governos estaduais aumentaram em 36% a sua arrecadação. Isso foi um absurdo e um crime que os governadores fizeram contra a população brasileira.\”

Ao criticar os governadores, Nogueira acompanha o que Bolsonaro tem dito nos últimos meses. O Planalto propôs ao Congresso um projeto de lei para reduzir o ICMS e zerar o PIS/Cofins de combustíveis —o texto já foi aprovado pelo Legislativo.

O Ministério das Minas e Energia apresentou nesta quarta os nomes de José Mauro Ferreira Coelho para presidir a Petrobras e de Márcio Andrade Weber para comandar o Conselho de Administração da estatal.

Os nomes fazem parte de uma solução interna do governo, que não encontrou pessoas da iniciativa privada dispostas a ocupar os postos em meio à pressão do presidente sobre os preços de combustíveis. Com isso, passaram a ser discutidas opções já ligadas à administração pública.

Enquanto Coelho integra o conselho de uma estatal e passou pelo MME (Ministério de Minas e Energia), Weber faz parte do conselho de administração da própria petroleira.


Fonte: Folha de São Paulo

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