Empresas aumentaram áreas de lobby e relações governamentais na pandemia

Necessidade de interlocução com agentes públicos fez empresas investirem em suas áreas, diz pesquisa

Em meio à pandemia de Covid-19, entre 2020 e este ano, grandes empresas aumentaram suas áreas de relações institucionais e governamentais (RIG), ampliando o número de profissionais contratados e o orçamento destinado a essa frente – conhecida por atuar junto à opinião pública e aos Poderes em nome dos interesses das companhias.

Desde o final de 2020, cerca de 40% das empresas disseram ter aumentado o tamanho de suas equipes de RIG, em uma base de 388 gestores entrevistados pelo Anuário Origem, radiografia anual do setor divulgada na última sexta-feira (12/11). Dessa fatia, 75% se deu em empresas com faturamento de mais de R$ 1 bilhão.

Além disso, para um quinto do total de empresas, o orçamento para a área aumentou desde o ano passado – antes, em relação à 2019, já era possível verificar o crescimento de orçamento. Novamente, entre as maiores empresas, a parcela que viu crescimento é maior do que no total. Assim, quase a metade das áreas de RIG nas empresas pesquisadas tem orçamento entre R$ 1 milhão e R$ 9,9 milhões.

Isso indicaria que as empresas têm levado para dentro de casa as ações estratégicas de relações governamentais – enquanto, fora de casa, ficariam assuntos menos delicados, como acompanhamento de mudanças regulatórias e legislativas. Houve aumento na internalização em todos os itens relacionados à interlocução com stakeholders, inclusive agentes políticos, e a treinamentos para os funcionários.

Esta edição do levantamento foi feita pelas firmas Consult-Master, Legal, Ethics & Compliance e VITTORE Partners, com Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais e Instituto de Relações Governamentais.

Preocupação
O perfil de atuação pouco mudou. Porém, atualmente, os profissionais se dizem mais interessados em contribuir para formular políticas públicas na área da empresa do que dialogar com os Poderes Executivo e Legislativo – 55% escolheram o primeiro item como prioridade.

Ainda, cresceram as proporções dos que disseram priorizar trabalhar por adequações regulatórias aos interesses corporativos ou atuar para evitar que decisões do poder público possam inviabilizar negócios da empresas. Esses itens sugeririam maior nível de complexidade no lobby feito pelas empresas, já que, como o levantamento afirma, esses são temas que “demandam mais ação”.

A maior preocupação do RIG nas empresas é que ocorram mudanças nas estruturas e no relacionamento com o governo, com 39%, mais de dez pontos percentuais a mais do que no ano passado.

Sobre esse indicador, os autores avaliam: “A pandemia certamente tornou esse relacionamento mais intenso, complexo e frequente. Mas não se pode ignorar que, principalmente no âmbito federal, este é um governo que tem demonstrado a capacidade de tornar a tradicional imprevisibilidade brasileira dos ambientes jurídico, político e econômico ainda mais imprevisível”.

Perfil e diversidade dos profissionais
Nas empresas, não houve avanços na participação de mulheres entre as lideranças de RIG do ano passado para este. Elas são 37,9% (eram 38% anteriormente). A diferença no tempo de atuação entre profissionais homens e mulheres na área é de um ano a mais para eles, que tem média 13,5 anos acumulados.

Houve aumento na participação de negros, que foram de 26% para 34,4%; e população LGBTQIA+, de 19,6% para 30,4%. Pessoas com deficiência são 13,6% ante 15,2% em 2020. Metade das empresas disseram que a área está engajada em políticas de diversidade, o que pode ter impactado nos números.

Letícia Paiva – Repórter em São Paulo


Fonte: JOTA

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