QR Codes vieram para ficar, mas a dúvida é a privacidade

Disseminação dos códigos de barra permitiu que as empresas integrassem mais ferramentas para rastreamento de seus clientes
he New York Times,

30 de agosto de 2021 | 05h00

Os QR codes – essencialmente um tipo de código de barras que permite que as transações sejam realizadas sem toque – se popularizaram por uma necessidade na pandemia e devem se tornar um acessório técnico permanente. Os restaurantes adotaram em massa, varejistas os adicionaram aos caixas e comerciantes os espalharam por todas as embalagens de varejo, outdoors e anúncios de TV.

Cada mesa do Teeth, um bar em São Francisco (EUA), tem um cartão estampado com o código, um quadrado preto e branco pixelado. Os clientes simplesmente o escaneiam com a câmera do telefone para abrir um site com o menu online. Em seguida, podem inserir suas informações de cartão de crédito para pagar, tudo sem tocar em nenhum cardápio de papel, nem interagir com um atendente.

“Depois de 13 anos como dono de bar em São Francisco, nunca vi uma mudança radical como esta. A tecnologia vem fazendo os clientes mudarem de comportamento muito rápido”, disse Ben Bleiman, proprietário do Teeth.

pesar da facilidade, a disseminação dos códigos também permitiu que as empresas integrassem mais ferramentas para rastreamento, segmentação e análise, levantando bandeiras vermelhas para especialistas em privacidade. Isso ocorre porque os QR codes podem armazenar informações digitais, tais como quando, onde e com que frequência ocorre determinada digitalização. Eles também podem abrir um aplicativo ou site que rastreia as informações pessoais das pessoas.

Como resultado, os QR codes permitiram que alguns restaurantes construíssem um banco de dados de históricos de pedidos e informações de contato de seus clientes. Nas redes de varejo, as pessoas em breve poderão receber ofertas personalizadas e outros incentivos dentro dos sistemas de pagamento com QR code.

As pessoas não entendem que, quando você usa um QR code, ele insere todo um aparato de rastreamento online entre você e sua refeição”, disse Jay Stanley, analista de política sênior da American Civil Liberties Union. “De repente, a sua atividade offline de sentar-se para uma refeição virou parte do império da publicidade online.”

Os QR codes podem ser uma novidade para muitos consumidores, mas são populares internacionalmente há anos. Inventados em 1994 para agilizar a fabricação de automóveis em uma empresa japonesa, os QR codes se tornaram amplamente utilizados na China nos últimos anos, após serem integrados aos aplicativos de pagamento digital AliPay e WeChat Pay.

Metade de todos os operadores de restaurantes com serviço completo nos Estados Unidos já elaboraram cardápios com QR codes desde o início da pandemia, de acordo com a Associação Nacional de Restaurantes. Em maio de 2020, o PayPal introduziu os pagamentos com QR code e, desde então, os adicionou à CVS, Nike, Foot Locker e cerca de 1 milhão de pequenas empresas. Em setembro, a Square, outra empresa de pagamentos digitais, lançou um sistema de pedidos por QR code para restaurantes e varejistas.

Os restaurantes que usam cardápios com QR codes podem economizar de 30% a 50% nos custos de mão de obra, reduzindo ou eliminando a necessidade de atendentes para receber pedidos e pagamentos, disse Tom Sharon, cofundador da Cheqout.

Essas habilidades digitais aprimoradas preocupam especialistas em privacidade. A Mr. Yum, por exemplo, usa cookies do menu digital para rastrear o histórico de compras de determinado cliente e dá aos restaurantes acesso a essas informações, vinculadas ao número de telefone e cartões de crédito do cliente.

Para Lucy Bernholz, diretora do Laboratório da Sociedade Civil Digital da Universidade de Stanford, os QR codes “são um primeiro passo importante para fazer com que sua experiência no espaço físico fora de sua casa possa ser rastreada pelo Google em sua tela”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU


Fonte: Estadão

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